Percebo que no Brasil a jornada de construção de um ministério de louvor forte e capaz de se manter por longos anos depende muito da sorte, coincidências ou de um milagre do que da capacidade de planejamento e organização, temos uma grande carência de lideranças preparadas para lidar com as necessidades técnicas, pessoais e espirituais deste departamento.
Ministérios sem um plano, sem um objetivo claro que oriente seus membros e lideres, se não tiverem sorte, estarão fadados ao assédio do ego dos músicos, cantores e ministros, que em algum momento perceberão a ausência de um plano, projeto e estratégia e tentarão usar o ministério como um projeto pessoal. Quem não se posiciona, posicionado em algum momento será, o que resta descobrir por quem.
Este é um artigo que serve como ponto de partida para te ajudar a pensar como começar a organizar seu ministério de louvor.
Dinheiro nem sempre faz a diferença
Alguns sustentam sua falta de planejamento justificando pela falta de dinheiro e investimento, embora mais recursos sejam importantes e possam ajudar a trazer mais qualidade com uso de tecnologias e capacitação das equipes, isso por si só não consegue promover um planejamento. O planejamento envolve coordenar os recursos e pessoas para se alcançar um objetivo, ter recursos, pessoas e um objetivo sem ter um plano claro e organizado levará a conflitos, desvio de função e será um prato cheio para oportunistas.
Pude presenciar situações onde colocar uma pessoa despreparada e sem o conhecimento necessário leva a igreja a desperdiçar os recursos financeiros, satisfazendo sonhos e cobiças, ou pior, levando a desperdiçar e a perder pessoas. É importante conhecer o caráter do líder e saber onde seu coração está, contudo, ter um líder com o coração na obra e sem nenhuma capacitação ou habilidade para o ministério é tão desastroso quanto.
Formação acadêmica às vezes ajuda
Conhecimento nunca é demais, tenha em mente que o ideal é que todos os seus colaboradores sejam capacitados tecnicamente com conhecimento e prática. Os dois maiores perigos de uma pessoa capacitada são que ela faça bem feito e que se incomode com quem não faz bem feito.
Se você faz parte do ministério de música e quer melhorar, você precisa entender de uma vez por todas que esta é uma área técnica, que como toda técnica, requer conhecimento técnico e prático da sua função e equipamentos (incluindo a voz e coordenação motora). Talvez você não consiga se dar ao luxo de parar por 4 anos de sua vida para uma faculdade de música, mas faça uma aula por semana, estude online, pegue um professor particular, se tiver um músico capacitado em sua igreja, convença-o para que os ensine.
O coletivo perde para o individualismo
A ausência de um propósito, de um modelo de trabalho e de uma liderança preparada abrirá espaço para aquele dentro do ministério que tiver a melhor desenvoltura e mais apelo perante a igreja assuma informalmente a liderança e faça prevalecer seus gostos e ambições, o que normalmente ocorre com os ministros por terem um papel de maior destaque.
Vimos diversas bandas e ministérios chegando ao fim porque um membro decidiu sair para realizar seu projeto pessoal. Não é incomum que ministérios de louvor de igrejas passarem por problemas após perderem alguma pessoa. Entendo a dificuldade de pequenas igrejas, que terão por vezes um grupo reduzido de músicos e ministros, gerando uma maior dependência, contudo, para ministérios maiores onde existe a possibilidade de mais colaboradores o ministério deve ser planejado para funcionar sem depender de uma pessoa específica.
Ministérios tendem a perder espaço para o individualismo
Na atualidade vemos ministérios fortes como Bethel, Hillsong, Elevation, Worship Central e Citipointe, onde músicos e ministros são substituídos ao longo dos anos sem que percam sua identidade e seu propósito, ministérios onde o coletivo está acima do indivíduo.
Muitos músicos estão na igreja com seus corações aprisionados no desejo de ser um músico conhecido e reconhecido, ao trazer novos membros para o seu ministério eles precisam entender o seu propósito e se engajarem nele, mas para isso este propósito precisa ser bom, conhecido e ter um plano claro de como alcançá-lo.
Vimos muitos ministérios no Brasil e bandas que tiveram grande projeção nacional e venderam muitos álbuns, porém em seu ápice sofreram perdas por desentendimentos e diferenças no objetivo entre seus membros. Ao final o ministério/banda saiu perdendo e os que tentaram a sorte se aventurando sozinhos não tiveram o mesmo êxito. Em poucas ocasiões a saída foi vantajosa, o que vimos foi a perda de relevância de ambos. Casos como do Rodolfo Abrantes são exceções, que pertenceu a duas bandas antes, sendo uma delas secular e de relevância, que ao se dedicar ao ministério solo manteve uma relevância igual ou maior. Nos EUA tivemos o caso do cantor Tauren Wells que deixou a banda Royal Tailor e obteve uma relevância maior após sua saída.
Um caso clássico ocorrido no Brasil de um mau planejamento, falta de clareza no objetivo futuro do projeto e um engajamento precário é do conflito entre Trazendo a Arca e Ministério Apascentar. “O início das tensões entre as partes se deu nos últimos meses de 2006, quando sete músicos da banda Toque no Altar começaram a discordar da criação de uma gravadora chamada Toque no Altar Music e, sem consenso, decidiram deixar o grupo e formar um novo conjunto musical.” Clique aqui para saber mais.
Por onde começar?
Defina quem será o líder espiritual e o líder técnico, se encontrar uma pessoa que consiga exercer os dois papeis será melhor, do contrário tenha dois líderes e separe os limites do que cada um deve fazer e se responsabilizar.
Defina a linha teológica de suas músicas, qual a base que sustentará as letras e o que será dito pelos ministros.
Defina a linha espiritual a ser seguida, o que se espera ao se comunicar com o público e o que se espera da vida espiritual dos membros.
Defina a linha musical (estilo) das músicas, esta clareza permitirá que os músicos e os ouvintes se identifiquem com o estilo.
Defina a linha visual (roupas, luz, imagem) e postura esperada, usos e costumes tendem a gerar conflitos, um alinhamento prévio e claro evitará muitas dores de cabeça.
Se o ministério atuar na igreja local, defina a liturgia e ensine para todos, não pode haver dúvidas sobre o que, quem, quando e ondem devem fazer.
Incentive e cobre que seus músicos, cantores e ministros se capacitem, é inaceitável que não tenham conhecimento de teoria musical básica, se algum destes disser que não sabe a diferença entre as notas, não conhece escalas básicas, divisão básica de compasso e rítmica, recomendo repensar o papel desta pessoa. Da mesma forma como temos o cuidado de não entregar nosso carro na mão de um mecânico despreparado, ou nossos dentes para alguém que não seja dentista, não deveríamos nos conformar em entregar o momento em que nos reunimos para adorar e louvar ao nosso Deus nas mãos de pessoas despreparadas.
Entendo que as circunstâncias nos levem a nos virarmos com o que temos, contudo, isso deve se temporário e devemos investir e incentivar que se preparem para entregar o seu melhor.
Não podemos esquecer que existiram requisitos para que um membro da tribo de Levi pudesse contribuir no templo, para que alguém fosse escolhido para assumir o presbitério ou diaconato, da mesma forma precisamos ter clareza sobre os requisitos para o ministério de música e adoração.
Para concluir, tenha uma liderança forte, preparada e que entenda o propósito do ministério de música e adoração junto a igreja local, pois músicos bons não serão suficientes para evitar o estrago que pode ser alcançado por uma liderança fraca e despreparada.
Referências:
Os pré-requisitos para se tornar um membro da tribo de Levita que prestava serviço no Tabernáculo em Números 4:2-3 e 4:23-30:
- Números 4:2-3: “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando um homem tiver cinqüenta anos, então entrará para o serviço do tabernáculo da congregação, para fazer a obra da tenda da habitação. Este é o ofício dos levitas no tabernáculo da congregação.”
- Números 4:23-30: “Disse mais o Senhor a Moisés: Diz a Arão e a seus filhos: Isto é o que se deve fazer às classes dos filhos de Levita: os que têm de trinta a cinqüenta anos entrarão para prestarem serviço na tenda da habitação. E deste serviço entrarão e sairão.”
Os pré-requisitos para se tornar um diácono (diácono é uma posição de liderança na igreja) em Atos dos Apóstolos 6:1-7:
- Atos 6:3-6: “Irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, a quem possamos confiar esta tarefa. Manteremos então a oração e o ministério da palavra. Então a proposta agradou a toda a multidão; e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosseguido, judeu. Estes apresentaram-nos aos apóstolos, e, depois de orarem, impuseram-lhes as mãos.”
Os pré-requisitos para se tornar um presbítero (também conhecido como bispo ou ancião) em Tito 1:5-9 e 1 Timóteo 3:1-7
- Tito 1:5-9: “Por esta razão te deixei em Creta, para que pusesse em ordem as coisas que ainda faltam e nomeasse presbíteros em cada cidade, como eu te ordenei: Se alguém for irrepreensível, marido de uma só mulher, tem filhos fiéis que não sejam acusados de dissipação ou rebeldes. Pois é necessário que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro de Deus; não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, não violento, não interessado em ganhos desonrosos.”
- 1 Timóteo 3:1-7: “Esta é uma afirmação digna de crédito: se alguém almeja o episcopado, deseja uma obra excelente. Portanto, é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, não violento, mas moderado, não contendor, não avarento; e que governa bem sua própria casa, tendo filhos submissos com toda a dignidade.”